O presidente Jair Bolsonaro foi eleito sob forte apoio da
classe empresarial. E, no início de seu governo, muitos destes empresários,
comandantes de grandes conglomerados do país, deram seu ‘aval’ para muitas das
ações, sobretudo em relação à reforma da Previdência, vislumbrando ‘desafogar’
os custos patronais, alegando o ‘encanto’ de gerar novos empregos e fazer a
economia crescer.
Brasília está praticamente parada nesta época do ano e,
politicamente falando, pouco tem acontecido, pois o Congresso Nacional, que
move a política nacional, está parado. Mas um movimento estranho tem chamado a
atenção daqueles que continuam a dividir espaços nas rodas de conversas da
capital federal: o empresariado começa a não mais se agradar do modo como o
presidente Bolsonaro tem conduzido o governo, sobretudo na área econômica.
A inflação alta no primeiro ano do governo, acima do centro
da média, e o recorde de dezembro (o mês apresentou o maior índice dos últimos
17 anos) jogou um balde de água fria nos entusiastas do ministro Paulo Guedes.
Mas a desconfiança da classe empresarial com Bolsonaro não
vem de hoje. Em meados do ano passado houve desencontros. E um deles ocorreu
por conta das manifestações de rua conclamadas em apoio ao presidente, que inseriram
críticas ao STF, à Câmara e ao Senado, com hashtags sobre invadir o Congresso e
fechar o Supremo, coisas que já deixaram os empresários com receio.
Gabriel Kanner, presidente do grupo Brasil 200, movimento
formado por empresários que defendeu, no início do mandato, uma agenda
pró-Bolsonaro, disse ser um erro jogar a população contra o Congresso e
descredibilizar a política, como Bolsonaro vinha fazendo. “Não podemos negar o
processo legislativo. Não acho correto dar essa impressão à população”, disse
ele, em recente entrevista à Folha.
Bolsonaro falou tanto em desacordo com a agenda necessária
ao Brasil e aos empresários que a presidente da Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania – CCJ do Senado Federal, Simone Tebet, chegou a dizer que o
presidente ajudaria na votação da reforma da Previdência na Casa “ficando
calado”.
Se era apenas a reforma da Previdência que os empresários
queriam, isso já conseguiram. Mas... há algo mais que Bolsonaro possa oferecer aos
empresários em 2020 para manter, digamos, pelo menos, uma agenda positiva junto
a quem comanda economicamente o país? Veremos nos próximos dias...